CANTE A VOZES │ ESPETÁCULOS │ VIOLA CAMPANIÇA │ OFICINAS │ INVESTIGAÇÃO │ ENSINO │ TRADIÇÃO

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AS RECOLHAS DE PEDRO MESTRE │ SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DO ALENTEJO

As tradições transmitem-se à séculos de geração em geração. De pais e avós a filhos e netos, muitos saberes chegaram aos dias de hoje e transformaram-se em heranças culturais a preservar.
A  salvaguarda do património cultural imaterial deverá ser uma missão de todos nós, mas num momento em que as alterações sociais se processam a um ritmo mais rápido e algumas tradições se encontram ameaçadas torna-se mais premente esta salvaguarda.
Pela fragilidade das matérias em causa existe uma maior urgência no seu registo e isso muitas vezes não se compadece com mega-projetos nacionais de recolha.
Localmente deverão de existir projectos que partindo de um conhecimento mais aprofundado das realidades regionais atuem para salvaguardar as tradições orais e artísticas, os saberes e as técnicas tradicionais de cada comunidade.
As Recolhas de Pedro Mestre inscrevem-se nesta vontade de salvaguardar o que é de todos nós.  Um trabalho produzido por quem conhece verdadeiramente as realidades locais, os seus intervenientes e que resulta num excelente registo para legar às gerações vindouras.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

AMÍLCAR SILVA - CONSTRUTOR DE VIOLA CAMPANIÇA │ ARTIGO PUBLICADO NO CAFÉ PORTUGAL DE NUNO FERREIRA

Nuno Ferreira continua o seu périplo em torno das histórias de vida das gentes do interior. 
Publicou agora no Café Portugal (aqui), a história de Amílcar Silva, construtor da Violas Campaniças originário da Corte Malhão, concelho de  Odemira.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

PEDRO MESTRE NA RÁDIO VIDIGUEIRA

Amanhã, dia 26 de janeiro  Pedro Mestre é entrevistado no programa Bom Dia Alentejo da  Rádio Vidigueira.
Numa entrevista conduzida por Paulo Boga vai falar-se de Cante e de como se perspectiva o seu futuro.




BOM DIA ALENTEJO RÁDIO VIDIGUEIRA 7H ÀS 9H 90 FM



MANUEL BENTO - OS PORTUGUESES │ UMA HISTÓRIA DE VIDA PUBLICADA NO CAFÉ PORTUGAL DE NUNO FERREIRA

Nuno Ferreira é o  jornalista que atravessou "Portugal a Pé"  e que agora continua a sua analise ao país real, retratando os rostos que o marcam.
Leia no Café Portugal (aqui) o retrato traçado por Nuno Ferreira de Mestre Manuel Bento, tocador de viola Campaniça.



" Os dedos já não permitem que o mestre da viola campaniça Manuel Bento, 86 anos, a toque como sempre tocou. A memória dos tempos da Aldeia Nova, Ourique, dos bailes, do canto a despique, da labuta no campo, essa permanece intacta. Recebeu o Café Portugal em Beja, onde reside actualmente e não escondeu o orgulho no trabalho de continuidade do jovem Pedro Mestre: «Sem ele a viola campaniça tinha morrido . . . "

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

CANTE ALENTEJANO A PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE │ENTREVISTA NA ANTENA 1


A promoção da candidatura do Cante Alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade é uma tarefa que deverá começar dentro de portas.
Portugal precisa de reconhecer a importância deste Cante tradicional e em uníssono apelar ao mundo que o inclua na lista universal das grandes manifestações da imaterialidade a preservar. 

Dia 24 de janeiro, terça-feira, falar-se-á, na Antena 1, de Cante Alentejano e da candidatura em curso.
Ana Sofia Carvalheda entrevista dois dos intervenientes no processo de candidatura, Pedro Mestre um dos mais ativos representantes do cante Alentejano e Carlos Medeiros, Presidente da Comissão Executiva da Candidatura.

Entrevista emitida a partir das 12h00, na Antena 1.

sábado, 21 de janeiro de 2012

NOVA GERAÇÃO DE TOCADORES DA “VIOLA DA PLANÍCIE” E A PRESERVAÇÃO DO CANTE - ARTIGO DO JORNAL SOL

Uma nova geração de quatro tocadores alentejanos de viola campaniça criou um grupo para preservar e divulgar o «legado musical» do cante alentejano e a «mestria do toque» da viola de arame, «peculiar» e típica do Baixo Alentejo.
O grupo Pedro Mestre & Campaniça Trio quer «preservar e divulgar o mais emblemático legado musical da região», o Cante Alentejano, e «a mestria do toque» da viola campaniça, uma «peculiar viola de arame» típica do Baixo Alentejo, disse o mentor do projecto, Pedro Mestre.
A criação do grupo «marca um novo ciclo para a viola campaniça», porque vai «manter a tradição e a originalidade» do instrumento, mas também «dar-lhe uma nova abordagem», nomeadamente nas técnicas de tocar, frisou Pedro Mestre, que canta, toca e ensaia e faz parte de vários grupos corais alentejanos
No grupo, Pedro Mestre é acompanhado por um trio de tocadores de viola campaniça e cantores, composto por Márcio Isidro, David Pereira e José Diogo Bento.
Numa fase inicial, o grupo vai apresentar-se na forma de quarteto e tocar temas do repertório tradicional do Alentejo, disse Pedro Mestre, que começou a tocar viola campaniça aos 12 anos «pela mão» do «mestre» Francisco António.
No entanto, «o objectivo é fazer algo diferente», ou seja, o grupo quer criar um repertório original e apresentar-se acompanhado por mais uma banda, para juntar à viola campaniça outros instrumentos, como os de sopro e percussão, bateria e conjunto de cordas.
«Queremos que a viola campaniça, com a beleza do seu toque, possa apresentar-se ao lado de outros instrumentos», com os quais «casa perfeitamente», frisou.
O grupo quer ser «um projecto actual e com uma visão mais virada para o que poderá ser o futuro da viola campaniça», e, para isso, está «a trabalhar em temas inéditos e a preparar um espetáculo diferente» dos tradicionais espectáculos de viola campaniça, disse.
Além de espectáculos, o grupo está a preparar um videoclip e quer gravar um álbum, «talvez ainda durante este ano», e editar um DVD de um concerto ao vivo, disse Pedro Mestre.
A viola campaniça, também conhecida como viola de Beja, é um instrumento típico do Baixo Alentejo, cujo toque, nos últimos tempos, esteve limitado à zona campaniça ou do Campo Branco, que engloba os concelhos de Aljustrel, Almodôvar, Castro Verde, Mértola, Ourique e parte do de Odemira
Actualmente, há poucos construtores e tocadores tradicionais de viola campaniça, que, noutros tempos, era tocada pelo povo nas feiras e nos campos do Baixo Alentejo.
No entanto, têm surgido novos tocadores e o grupo «é uma prova disso», disse, referindo que a viola campaniça «não passa despercebida na vida das novas gerações», já que é tocada nas aulas de Cante Alentejano em escolas básicas da região e a construção e o toque do instrumento são ensinados na Escola Secundária de Castro Verde.
in Lusa/SOL

artigo on-line 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PEDRO MESTRE & CAMPANIÇA TRIO │ VIESTE MESMO EM BOA HORA

Pedro Mestre & Campaniça Trio participaram no programa da RTP 1, Portugal no Coração, e surpreenderam mais uma vez o público que acompanha esta recente formação musical.
A cada nova apresentação vamos conhecendo melhor o seu repertório e modo de cantar o Alentejo. Veja o vídeo de "Vieste mesmo em boa hora".




quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

CANTARES DO POVO PORTUGUÊS │VÍDEO PROMOCIONAL

O magnifico espetáculo Cantares do Povo Português,  realizado no Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, no passado dia 26 de Novembro de 2011 deu origem a um DVD que será lançado durante o mês de março.
Fica aqui o vídeo promocional deste espectáculo  que reuniu diversas manifestações  do riquíssimo património que é o canto e a música tradicional portuguesa e onde estiveram presentes, Isabel Silvestre, 4uatroAoSul, Adufeiras de Monsanto, Grupo de Cantadores de Vila Nova de S. Bento, Pedro Jóia, Rui Júnior, Grupo Etnográfico MilRaízes, gaiteiros e pauliteiros, bem como vários pares de bailadores tradicionais.




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

RAFAEL CARVALHO│ORIGENS │CD DE VIOLA DA TERRA

A  viola de arame da Ilha de São Miguel também conhecida pela Viola dos Dois Corações tem um novo CD no mercado.
O primeiro CD a solo de Rafael Carvalho intitula-se Origens e tem data de apresentação marcada para o próximo dia 3 de fevereiro no Centro Social e Paroquial da Ribeira Quente em São Miguel e lançamento dia 4 de fevereiro no Auditório Luís de Camões em Ponta Delgada.




terça-feira, 17 de janeiro de 2012

PEDRO MESTRE & CAMPANIÇA TRIO NO PROGRAMA PORTUGAL NO CORAÇÃO

Continua a decorrer a promoção de Pedro Mestre & Campaniça Trio.

                                               Amanhã, dia 18 de janeiro, o programa Portugal no Coração da RTP 1 recebe estes embaixadores dos sons da planície.

O programa será transmitido em direto na RTP1 a partir das 15h41.


FALECEU A CANTADEIRA EMÍLIA GRAÇA

É com grande pesar que noticiamos o falecimento da cantadeira Emília Graça.
Perdeu-se uma voz do cante e uma excelente contadora de estórias, que  a propósito dos nossos trabalhos de recolhas de património imaterial, conosco partilhou cantigas, orações, tradições e evocou memórias do seu passado de menina.

Fica aqui a nossa sentida homenagem a Emília Graça.



GRUPO DE VIOLAS CAMPANIÇAS │ PROGRAMA ALMA D'UM POVO│ RÁDIO OURIQUE

Hoje, o Grupo de Violas Campaniças estará presente no programa "Alma d'um Povo" na Rádio Ourique.
Acompanhe  a partir das 21h em 94.2 FM, as violas Campaniças de Pedro Mestre e de David Pereira e as vozes das cantadeiras Ana Valadas, Lucinda Mestre e Evangelina Torres.


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

PEDRO MESTRE & CAMPANIÇA TRIO

Pedro Mestre & Campaniça Trio fizeram a sua estreia  no programa Portugal sem Fronteiras.
Esta nova formação que apresenta o repertório Campaniço foi muito bem acolhida pelo público nesta sua primeira apresentação.

Veja os vídeos dos dois temas apresentados.



Palavrinhas de Amor

Lampião

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

FOI ASSIM NA CENTRAL FOLQUE - CENTRO GALEGO DE MÚSICA POPULAR

Em dezembro passado a Viola Campaniça esteve em destaque na Central Folque - Centro Galego de Música Popular, em Santiago de Compostela.
O evento foi a apresentação do livro CD/DVD "Michel Giacometti - Filmografía Completa" que contou com a participações de José Moças, da editora Tradissom do investigador Paulo Lima e do tocador Pedro Mestre.
Ficam aqui agumas imagens do encontro:



quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PEDRO MESTRE & CAMPANIÇA TRIO NO PORTUGAL SEM FRONTEIRAS

No próximo sábado, dia 14 de janeiro, o programa Portugal sem Fronteiras da RTP 1 tem como convidado Pedro Mestre.
Neste, que é um programa que se define "para toda a "Família Portuguesa" espalhada pelo mundo, Carlos Alberto Moniz e Diamantina Rodrigues conduzem os seus convidados a partilharem estórias feitas de vida d´aquém e além-fronteiras."
Será este o momento para a estreia da mais recente formação musical integrada por Pedro Mestre.
Pedro Mestre & Campaniça Trio, apresenta o tocador Pedro Mestre acompanhado de um trio de jovens promessas da música tradicional da região, os tocadores David Pereira e Márcio Isidro e a voz de José Diogo Bento.
 O programa será transmitido em direto na RTP1 a partir das 11h.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A VIOLA CAMPANIÇA PRODUÇÕES NO FACEBOOK

 A Viola Campaniça Produções Culturais está no facebook.   

Goste da nossa página e acompanhe, no seu facebook as nossas atividades cliquando aqui.

PEDRO MESTRE & CAMPANIÇA TRIO

O ano de 2012 marca para a Viola Campaniça o inicio de um novo ciclo.  Acaba de ser constituída uma nova formação, Pedro Mestre & Campaniça Trio, um grupo que procura manter a tradição e a originalidade da Viola Campaniça.


Constituído por tocadores originários da região está apostado em apresentar ao público o mais genuíno repertório campaniço bem como a mestria do toque desta peculiar viola de arame.
Pedro Mestre, mentor deste projeto, é natural da Aldeia da Sete em Castro Verde. Pedro iniciou-se  no toque da Campaniça aos doze anos, pela mão do mestre Francisco António.
A acompanha-lo estão as violas Campaniças dedilhas por Márcio Isidro e David Pereira e a voz de José Diogo Bento.


Márcio Isidro é originário da Aldeia da Conceição, concelho de Ourique. Ali a campaniça sempre se tocou o que motivou Márcio a aprender o seu toque, junto a Pedro Mestre. Também David Pereira, natural da Estação de Ourique, terra de tocadores,  seguiu  a tradição,  ao frequentar aulas de Viola Campaniça na escola secundária de Castro Verde e mais tarde a continuar a sua formação junto a Pedro Mestre. José Diogo Bento, natural de Panóias, vem de uma família de  mestres tocadores e prosseguindo a tradição familiar é agora aluno de Viola Campaniça.

Esta nova formação projeta a vontade de preservar e divulgar o mais emblemático legado musical da região.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CASA DO CANTE │ O FUTURO DO CANTE VAI PASSAR POR AQUI

Abertura Casa do Cante Alentejano marcada para o verão em Serpa 

Artigo do Jornal Diário do Alentejo - 6 Janeiro 2012 

A Casa do Cante Alentejano deverá ser inaugurada no verão de 2012, em Serpa, para “crescer” e tornar-se num “espaço de estudo, promoção, apresentação e ensino” do género musical, disse um dos fundadores da instituição à Lusa.
O edifício deverá abrir portas no próximo verão e “depois vai crescendo e dando vida” àquela música tradicional portuguesa, “principalmente para que o cante possa ser ouvido pelas futuras gerações”, disse Pedro Mestre, um dos fundadores da Casa do Cante.
A casa deverá também servir de sede à Confraria do Cante e vai trabalhar em parceria com o Musibéria, Centro Internacional de Músicas e Danças do Mundo Ibérico, inaugurado em abril de 2011, onde poderão ser gravados trabalhos musicais.
Para o futuro local está projetada a instalação de um museu, que acolha exposições, lojas e um centro de documentação, prevendo-se ainda a possibilidade de dar formação sobre o cante, até para responder a “dificuldades que os grupos têm”, acrescentou Pedro Mestre.
O membro do grupo fundador da Casa do Cante Alentejano enumerou, por exemplo, as dificuldades de angariar fundos para transportes e fatos dos grupos de intérpretes, assim como dúvidas sobre quais os microfones a usar em palco.
Para Pedro Mestre, a formação será palavra de ordem para fazer perdurar o cante com qualidade.
O membro do grupo fundador da Casa do Cante, tocador de viola campaniça, dinamizador e ensaiador de diversos grupos corais, lembrou projetos que decorrem em escolas, como acontece com turmas da Damaia e de Oeiras, para ilustrar a importância do desenvolvimento do cante até fora da região de origem, o Alentejo.

A candidatura do cante a património imaterial da humanidade da Unesco deverá ser decidida em novembro de 2013 pelos peritos da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, e é protagonizada pela Câmara Municipal de Serpa e a Confraria do Cante Alentejano, com o Turismo do Alentejo.

O TEMPO EM QUE OS CANTARES DO ALENTEJO ENTRAM PELAS IGREJAS DENTRO│ARTIGO PUBLICADO NO DIÁRIO DO ALENTEJO EM 6 JANEIRO 2012



Quer que cante ou quer que reze?
A 6 de janeiro, a tradição cristã atribui a visita dos reis Magos a Jesus Cristo, que havia nascido dias antes. É também hoje que termina o chamado Ciclo de Doze Dias, que Michel Giacometti, etnólogo da Córsega e que estudou os cantares alentejanos, documentou na década de 1970 na sua série televisiva “Povo Que Canta”. Um período ao longo do qual se canta ao Menino, as Janeiras e aos Reis, e que culmina no dia de hoje, 6 de janeiro, Dia de Reis.

Texto Marco Monteiro Cândido

O cimo da estrada termina na igreja de Santa Bárbara de Padrões, freguesia do concelho de Castro Verde. No adro do templo, homens e mulheres, principalmente homens, juntam-se em torno dos madeiros que ardem e dão os tons laranjas à noite. Os rostos, alumiados pela luz da criação, da origem dos tempos, retesam-se e mexem-se devido ao frio, tentando enganá-lo. Os chapéus, as samarras, os capotes, as pelicas e os cajados compõem o cenário. E os lenços, os habituais lenços, que aconchegam as gargantas de onde, daí a pouco, vai brotar o cantar aos Reis, mas também ao Menino e as Janeiras.

Na rua, para disfarçar o frio, bebe-se e come-se. As crianças correm e brincam e a brancura da igreja torna-se mais alva na noite escura. No interior, está quase cheia. Mais cheia do que em dias de missa. De paredes irregulares, teto de madeira, os bancos estão preenchidos de novos e velhos. Silenciosamente, em fila, o primeiro grupo coral dirige-se ao altar. São os Camponeses de Valvargo, compenetrados e ordeiros, carregando nos ombros a tradição de um Alentejo inteiro e, na voz, a dureza da origem dessa tradição. Na assistência, os olhos fechados compadecem-se com o ouvir do canto, uma das tradições natalícias mais profundamente alentejanas. Os braços cruzados, apoiados nos cajados, dão o balanço e o equilíbrio aos timbres secos e fortes que soam na noite fria de inverno. Começou o Cantar ao Menino, Janeiras e Reis.

Por estes dias, muitos são os locais espalhados por terras do Baixo Alentejo que dedicam as suas noites a cantar e a ouvir os Reis. Este tipo de cantar aparece, por esta altura do ano, associado aos cantares ao Menino e às Janeiras, começando na altura do Natal e prolongando-se, muitas vezes, até meados de janeiro. E se a tradição se mantém acesa por estes dias, como as candeias que saíam à rua para alumiar o caminho dos que cantavam pelas ruas antigamente, essa mesma tradição teve que ser reinventada, tal como as candeias, que só estão presentes por motivos icónicos e ornamentais. O tocador de viola campaniça, dinamizador e ensaiador de diversos grupos corais, Pedro Mestre, é da opinião que estes tipos de cantares estão a perder-se um pouco ao longo dos tempos, desde os tempos em que eram transmitidos “à roda do lume”. “Tradição é transmissão e, hoje, este tipo de cantes não se transmite. E são poucos os grupos corais que os cantam, da quadra que vai do Natal até aos Reis”. Esta realidade é um reflexo das origens, onde este tipo de cantares era feito de forma espontânea, “por homens e mulheres, moços e moças que saíam para a rua”, refere Pedro Mestre. “Não havia grupos corais, sequer. Nos últimos anos é que tem sido hábito os grupos corais fazerem concertos de cante ao Menino, Janeiras e Reis”.

José Francisco Colaço, anfitrião do “Património”, programa emblemático da Rádio Castrense, aponta para esse mesmo sentido, o de que os grupos corais sempre estiveram alheados deste tipo de cantos, sendo um fenómeno relativamente recente. “Havia até alguma recusa em participar neste tipo de cantares. Só muito recentemente é que os grupos corais, pouco a pouco, começaram a entrar nesta lógica dos cantares tradicionais”.

Os cantares de antigamente Em meados do século passado, bem antes dos grupos corais adotarem estes cantares tradicionais como parte dos seus repertórios e das suas identidades, quase sempre na lógica tripartida que é apresentada atualmente, Menino, Janeiras e Reis, estas manifestações musicais surgiam de forma espontânea, por populares que se juntavam ao acaso, cantando de porta em porta, como refere José Francisco Colaço. “No entanto, há que distinguir duas situações: o Cante ao Menino, completamente religioso, que só seria cantado nas igrejas, em ambientes mais litúrgicos e completamente afastado do mundo pagão onde se desenrolavam os outros cantares, as Janeiras e os Reis”.

Se o cantar ao Menino acontecia em celebrações religiosas, na quadra do Natal, muitas vezes na própria Missa do Galo, as Janeiras e os Reis eram cantados, normalmente, na rua, após essa data, entre o final de ano e o Dia de Reis. Aliás, as Janeiras nunca se cantavam dentro das igrejas “até pelas características das próprias quadras que eram cantadas, as chamadas chacotas, que tinham que ver com o desejo de sorte e saúde para os donos da casa, com a situação de pobreza, de miséria, de fome e de frio que as pessoas passavam”. Era um cantar que visava, única e exclusivamente, o arranjar de algumas ofertas, desde o bocado de pão à linguiça, passando pelo queijo ou um bocado de presunto. “O que viesse ia para um saco comum que depois era repartido pelo grupo de cantadores. Por isso, Cante ao Menino, cante religioso. Cante às Janeiras e Reis, cantar espontâneo e de rua”.

Pedro Mestre, apesar de não ter vivido esses tempos, relembra os hábitos de outrora por ouvir contar, onde nas Janeiras e nos Reis, nas friezas de princípio de inverno, os grupos andavam de rua em rua, batendo de porta em porta, procurando reconfortar alma e estômago. “Um grupo que saía para cantar, antes de cantar, batia a uma porta e perguntava: quer que cante ou que reze? E do lado de dentro respondiam para cantar, para rezar ou não respondiam. Mas era hábito, nessas noites, os lavradores, que davam a esmola, mandarem ficar alguém de sentinela. Até me lembro de ouvir dizer que no monte tal mandou-se fazer uma amassadura de pão porque é noite de Janeiras”. Apesar de serem manifestações para as pessoas arranjarem alguma coisa que reconfortasse o estômago, bem vazio a maior parte das vezes tal era a miséria dos trabalhadores rurais, Pedro Mestre aponta ainda um outro cenário, onde outros interesses apareciam. “Havia ainda aqueles mais sacrificados, que ganhavam as esmolas e depois, no dia seguinte, faziam um leilão no adro da igreja e o lucro revertia para a Igreja. Na freguesia de São João dos Caldeireiros, em Mértola, muitos dizem que isso acontecia no tempo mais antigo”.

O ressurgimento dos últimos anos Pedro Mestre, ele que também é ensaiador de grupos corais, como os Cardadores, as Papoilas ou a Academia Sénior de Serpa, sublinha que a assimilação do repertório típico do Ciclo dos Doze Dias, apresentado por Giacometti em 1971/1972, é, também ela, uma forma de manter os grupos ativos durante o período de inverno. “Os grupos corais no inverno acabavam por ficar um bocadinho parados, porque não tinham repertório e não tinham concertos. Estas iniciativas fizeram com que os grupos reavivassem a memória sobre estes cantes, procurassem e recolhessem os temas”. E é nesse trabalho de recolha e estudo do repertório do cancioneiro popular alentejano que Pedro Mestre tem­- ‑se deparado com a particularidade dos cantares fazerem-se de formas diferentes entre terras, sejam elas próximas ou afastadas. O próprio dá um exemplo num típico tema dos Reis. “Apesar de se encontrar a mesma letra em todos, nos ‘Três Cavalheiros’ é onde se percebe melhor, porque aquilo é um romance e, do princípio ao fim, as palavras são as mesmas. Mas tem dezenas de melodias. Cada terra que canta os Reis, canta com uma melodia própria”. A explicação das variadas formas que chegaram até hoje relaciona-se com a transmissão que faz a tradição.”As pessoas iam ouvindo, trauteando essas melodias e assim é que iam modificando as várias versões. Hoje em dia, os grupos corais conhecem esses temas e trabalham-nos de forma diferente”.

A maneira como passaram a ser encarados estes “cantos tradicionais”, como refere José Francisco Colaço, é que foi preponderante para o seu ressurgimento nos últimos anos através dos grupos corais. O acolhimento tardio por parte dos grupos corais aconteceu porque estes nasceram, inicialmente, para o cante, aponta o fundador do grupo das Camponesas de Castro Verde. “Esses cantares tradicionais nada têm a ver com o cante alentejano, com as ditas modas. E os grupos recusavam tudo o que tivesse uma génese mais próxima dos bailes e dos cantares à campaniça”. Mas então, o que mudou com o passar dos anos? “Pouco a pouco foi-se introduzindo no pensamento que a cultura é um todo, que deve ser preservada, porque as pessoas, dos grupos espontâneos de outrora, foram desaparecendo e a única forma de preservar esta tradição seria através dos grupos corais. Mesmo assim, nem todos os grupos cantam estes cantares tradicionais”.

Atualmente, para além do Menino, o cantar das Janeiras e dos Reis também já se faz nas igrejas, tendo saído do palco primordial, as ruas. E, como na igreja de Santa Bárbara de Padrões, pode ouvir-se alguém cantar: “Toda esta noite aqui ando/Com os pés pela geada/A barriga vem vazia/E a talega não traz nada”. Mesmo que antes não perguntem se é para cantar ou para rezar.

Cantar os Reis por estes dias
 
Por todo o distrito de Beja muitos são os locais onde se canta aos Reis neste final de semana. Hoje, em Brinches, festejam-se os Reis, depois de ontem se terem cantado em Serpa, com um desfile pelas ruas. Também em Castro Verde, na Basílica Real, pelas 21 e 30 horas há um Concerto de Reis. No concelho vizinho de Ourique decorre o cantar das Janeiras e Reis na igreja Paroquial de Santana da Serra a partir das 21 horas. Amanhã, dia 7, é a vez da igreja Paroquial do Santíssimo Salvador, pelas 21 horas, encerrando uma semana dedicada ao Cante Alentejano – Janeiras e Reis.

Almodôvar recebe também, amanhã, pelas 21 horas, na igreja Matriz, o Cante ao Menino. Em Figueira dos Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, a Associação Grupo Coral Os Rurais organiza o Cante dos Reis, às 19 horas, na igreja Matriz. A freguesia de Ervidel, em Aljustrel, recebe o Cantar aos Reis no próximo domingo, dia 8, pelas 17 horas, no centro cultural local, com as participações dos grupos As Margens do Roxo e Flores da Primavera.

E, no momento em que a candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco está a ser preparada, a Confraria do Cante Alentejano, a Casa do Alentejo e a Associação MODA promovem o primeiro encontro de grupos corais no próximo dia 8, na Casa do Alentejo, em Lisboa. Uma oportunidade para se discutir a importância da candidatura, o ponto de situação da mesma e a relevância da participação dos grupos corais na sua razão de ser e desenvolvimento. MMC

CANTES DE REIS EM ALMODÔVAR

Cumpriu-se mais um ciclo de Cantares de Natal, Reis e Janeiras.
Homens, mulheres e crianças, saíram à rua a cantar mantendo vivo o legado dos nossos antepassados.
Encerrando os Cantes da quadra do Natal, viveu-se em Almodôvar no passado sábado uma noite repleta de tradição.
Ficam aqui algumas imagens recolhidas na igreja de Santo Ildefonso dos grupos participantes.
Grupo Coral "Vozes de Almodôvar"
Grupo Coral "As Mondadeiras" de Santa Cruz
Rancho Coral Etnográfico de Vila Nova de São Bento
4uatroAoSul

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CANTE DE REIS EM VILA NOVA DE SÃO BENTO E SERPA

"Alunos do 1.º ciclo cantam os Reis

As crianças do projeto Cante nas Escolas vão cantar os Reis nos dias 5, em Vila Nova de São Bento e 6, em Serpa. No primeiro dia apresentam-se os alunos de Pedro Mestre, da escola de Vila Nova de São Bento, às 21 horas, na Igreja de São Francisco; no dia seguinte é a vez dos alunos de Armando Torrão, do Pólo 2 de Serpa, às 10.30 horas, na câmara municipal e depois no centro de convívio da Junta de Freguesia de Santa Maria; às 14 horas vão ao lar de S. Francisco"

Noticia retirada do website do Município de Serpa.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

CANTE DE JANEIRAS EM GOMES AIRES │ ALMODÔVAR

Esta manhã cantaram-se as Janeiras pelas ruas de Gomes Aires, e o povo saiu à rua para ouvir as vozes dos meninos cantadores.
O périplo do grupo pela aldeia, incluiu paragens na Junta de Freguesia, no campo de jogos e no café junto à escola. Quem os escutou garantiu que cantam bem e afinados. E foi com saudade que alguns recordaram a mocidade, os tempos em que também em crianças saiam à rua para cantar as Janeiras.

Entre hoje e amanhã outras turmas, onde o Projeto Cante nas Escolas é lecionado, sairão à rua a cantar Janeiras e Reis.


O ENSINO DO CANTE ALENTEJANO

Com a proposta de classificação do Cante Alentejano a Património Cultural da Humanidade, urge responder à importante questão. Como se perspectiva o Cante no futuro?
Esta é uma questão que muitos têm vindo a colocaram nos últimos anos. E a resposta poderá estar aqui.
Pedro Mestre, que desde sempre integrou grupos corais movido por um genuíno interesse acreditou que a resposta está nos jovens, eles são a força motriz capaz de garantir o futuro do cante.
Levar a cabo esse propósito e dar a conhecer o cante às gerações mais jovens, era o caminho a percorrer. E se à muito a ideia de levar para as escolas o cante  vinha a ser idealizada por Pedro Mestre, foi num Colóquio sobre música tradicional  realizado em Almodôvar e promovido pela Associação os Malteses no final de 2006, que ele foi debatido em público pela primeira vez.
A ideia agradou de imediato ao executivo do Município de Almodôvar, mas faltava a legislação que torna-se viável, o ensino do Cante como disciplina extra-curricular, no primeiro ciclo do ensino básico. Foi em janeiro de 2007 que se reuniram as condições para dar inicio a este ambicioso projecto.
Despertar o gosto pelo Cante, valorizar e divulgar a cultura e as tradições do Alentejo e sobretudo motivar as novas gerações para a preservação da música tradicional foram desde  o primeiro momento o seu principal objetivo. Pretendem formar-se não só  vozes para o Cante mas também novos públicos para aquele que é o ex-líbris da região.
A forte aceitação junto à comunidade,  ditou a continuidade do projecto no concelho de Almodôvar. Mas foi o cariz de inovação que o projeto aportou à salvaguarda desta manifestação do mais precioso património imaterial da região que o estendeu além das fronteiras do concelho de Almodôvar. No ano lectivo de 2009/2010 o projecto foi alargado aos concelhos de Serpa e Ourique.
A repercussão desta iniciativa na imprensa nacional motivou que outros projectos de ensino de cante tradicional alentejano em ambiente escolar fossem implementados por outros municípios e agrupamentos escolares.